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Os exercícios miofasciais e os benefícios para a saúde

Entrevista exclusiva com Fabiana Silva, fisioterapeuta, professora do IPA, sócia especialista em fisioterapia esportiva da SONAFE (Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e da Atividade Física) e membro da Fascia Research Society (FRS).

1 - O que é a liberação miofascial? E sobre o exercício miofascial, qual a diferença?

Na verdade, não temos qualquer exercício que trabalhe somente a fáscia. O que ocorre é que, por meio do exercício, podemos dar uma ênfase maior nas capacidades viscoelásticas da fáscia. Esse é um ponto importante.

Realizamos movimentos com mais insistência, nos quais há um encolhimento do tecido e depois um estiramento, como se fosse uma catapulta. Ou seja, se encolhe e depois puxa aquela parte elástica; armazena energia e depois arremessa.

Trabalhamos com exercícios mais multidirecionais e ondulados. Estes estimulam bastante a fáscia (que é multidirecional no nosso corpo). Há movimentos específicos que darão ênfase nestas capacidades fasciais como a pandiculaçao (movimentos ondulados), o recall, que é o recolher e lançar. Eles potencializarão a mobilidade natural do nosso corpo.

Já sobre o termo liberação miofascial, destaco que não se trata de uma liberação do tecido. Nós potencializamos ou melhoramos as capacidades fisiológicas que a fáscia tem. Desse modo, vamos hidratar o tecido, que possui uma grande quantidade de água e que precisa dessa hidratação para manter o deslizamento entre as suas camadas.

Além disso, estimularemos a renovação do tecido e a circulação. Isso é muito importante, pois estamos tratando de um tecido que é capaz de participar da transmissão de força naquilo que se chama de propriocepção – sensação do corpo no espaço. A fáscia também participa da biotensegridade, tensão que forma nosso corpo, permitindo que o movimento aconteça junto com a contração muscular.

Assim, quando estimulamos a fáscia manualmente, com rolo, com exercícios, com toque mais suave (que estimula a fáscia mais superficial) ou toque mais profundo (que estimula a fáscia profunda, perto do músculo), estamos instigando as propriedades fisiológicas desse tecido. E é muito importante lembrar que, quando este tecido tem alteração na sua fisiologia, ele informa para o sistema nervoso que há algo errado. Isso ocorre porque a fáscia é repleta de receptores mecânicos e nociceptores que acabarão fazendo que interpretemos os estímulos como nocivos e, consequentemente, dolorosos. Por todas essas razões, é fundamental trabalhar a saúde desse tecido.

2- Quais as indicações para o uso desta técnica?

Há diversas indicações. Por exemplo, qualquer indivíduo que tenha dor ou rigidez musculoesquelética. Também, está sendo estudado o uso do trabalho sobre a fáscia para indivíduos que tenham alterações neurológicas. De fato, a partir do instante que o movimento é prejudicado por algum motivo, ao estimular a fáscia, vamos potencializar o movimento que resta.

Por outro lado, é preciso levar em conta que, se eu não me movimento, a fáscia também vai se adaptar e se alterar em função dessa falta de mobilidade. Desse modo, é preciso ter cuidado com contraindicações como qualquer lesão que tenha outra característica não diagnosticada. Por isso, destaco que não se pode “liberar” o corpo só por liberar. Muitas vezes, onde aparece a dor não é o local da alteração ou da restrição da fáscia. Se tenho dor no cotovelo, por exemplo, ela pode ser consequência de uma disfunção no ombro. Então, eu não preciso, necessariamente, liberar a fáscia na região do cotovelo; deveria ser feito um trabalho no ombro. Assim, é muito importante passar por uma avaliação e, depois, ter uma atuação preventiva ou de manutenção, um trabalho fascial mais contínuo.

3 - Que benefícios podemos obter dos exercícios miofasciais?

Os benefícios são a diminuição da nocicepção (percepção dolorosa), melhora de movimento, de amplitude, mais liberdade para se mexer e a conquista de um corpo mais saudável. É fato que perdemos a capacidade de movimento ao longo do tempo, e a forma do nosso corpo vai se adaptando muito à função. Afinal, a função é o que a gente faz com o corpo. Se eu não estimulo o tecido, ele se adapta de uma forma negativa.

4 - De que modo integrar esta técnica na atividade física habitual da pessoa?

O trabalho sobre a fáscia pode ser usado pré-atividade física de uma forma mais rápida; por exemplo, com rolos ou mesmo com as pandiculações. Mas ressalto que, antes da atividade física, o trabalho é mais de hidratação no tecido. Então, se eu for usar um rolo ou uma bolinha para trabalhar a minha fáscia, farei o rolamento rápido, pois não queremos estimular a atividade parassimpática, ou seja, o relaxamento antes do exercício físico. Ao contrário, quero que o corpo fique mais preparado para se mexer.

Durante os exercícios, podemos fazer os movimentos de forma multidirecional, usar os saltitos, balanceios etc. Num agachamento, posso flexionar o joelho e lançar o corpo longe, com o tronco voltado para cima, pensando no efeito da catapulta. Desse modo, uma vez por semana, posso colocar a ênfase nestes movimentos durante a minha atividade física. Não precisa mais do que isso para estimular a saúde da fáscia.

E, ao final da atividade física, posso usar o exercício fascial como recuperação do tecido. Nesse momento, vamos hidratar, estimular a atividade de degradação e formação de novo colágeno através do estímulo de atividade celular, da eletricidade no corpo.

Posso fazer o mesmo rolamento de uma forma lenta, passando em todas as áreas em que necessito estimular (não gosto muito de usar a palavra liberar). Onde eu sinto que ficou alguma rigidez, instigo a hidratação ali.

São formas distintas. Ou seja, antes – mais rápido; durante, com movimentos específicos, sendo uma vez por semana suficiente; e, no final da atividade física, o exercício miofascial vai substituir ou acompanhar o alongamento.

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