top of page

Recuperação de Lesões

Atualmente é possível perceber um aumento no número de pessoas acometidas por lesões musculoesqueléticas específicas ou sintomas álgicos em regiões do corpo sem diagnóstico clínico. Tais indivíduos normalmente iniciam tratamento fisioterapêutico, visando amenizar tais sintomas e recuperarem o tecido danificado.

Recentemente novas evidências apontam a necessidade da continuidade do processo de recuperação e reabilitação através do exercício físico no período pós-fisioterapia, visando a prevenção da reincidência da lesão e o surgimento de novas lesões. Para entendermos como funciona o processo de recuperação de lesões musculoesqueléticas, é necessário abordar a definição de lesão e como atuam os mecanismos predisponentes para tal.

1 – Lesão Muscoesquelética

Lesão é caracterizada como uma alteração, deformidade ou anormalidade tecidual modificando o estado fisiológico normal do tecido, podendo alterar as propriedades de outros tecidos, como vários tipos de células. Pode ser desencadeada por diferentes fatores como desequilíbrio fisiológico, esforços repetitivos, trauma físico direto ou indireto, fatores mecânicos, fatores posturais, dentre outros.

As lesões podem ser de origem macrotraumática ou microtraumática, ambas primárias, em resposta a pequenas ou grandes forças traumáticas. Lesão macrotraumática é ocasionada pelo trauma físico direto (agudo), promovendo algia e incapacidades imediatas, provocadas pela perda de função da estrutura lesionada. Temos como exemplo de lesões macrotraumáticas as fraturas, os estiramentos, luxações, etc. As lesões microtraumáticas, são originadas por pequenos traumas de repetição, que ao longo do tempo geram pequenos processos inflamatórios reincidivos (crônicos).

Os mecanismos de lesão microtraumática envolvem os esforços repetitivos, gestual motor incorreto, anormalidades na postura, etc. São exemplos deste tipo de lesão as tendinites, bursites, sinovites, dentre outras. Em resposta à lesão primária, temos a lesão secundária, caracterizada como consequência da primária, onde ocorre o a liberação de fluidos que causam a inflamação ou hipóxia tecidual. O tempo de recuperação varia em virtude da magnitude da resposta inflamatória. Dessa forma, quanto maior a inflamação, maior será o tempo de recuperação.

2 – Fases da Recuperação

Para obtenção de sucesso na fase de recuperação da lesão, é necessário entender e respeitar as fases do processo. Estas etapas são descritas como: fase inflamatória, fase de cicatrização e fase de remodelação.

2.1 Fase inflamatória

Caracterizada como resposta à lesão primária, havendo formação de edema em função do acúmulo de fluidos, aumento de macrófacos que atuam na “digestão” das estruturas celulares provenientes do tecido lesionado, elevação da temperatura local, algia, rubor e perda da função. Não há um período pré-estabelecido para a atividade inflamatória, podendo durar semanas, porém atinge seu ápice entre 48 e 72 horas após ter ocorrido à lesão. Nesse momento é fundamental controlar estes sinais, pois os mesmos podem se expandir para tecidos adjacentes. Nesta fase a participação do fisioterapeuta é fundamental na contenção do processo inflamatório, evitando a contaminação inflamatória dos tecidos próximos do local da lesão. A crioterapia é uma ferramenta de grande importância para esta fase, uma vez que reduz o metabolismo local através da vasoconstrição, além de seus efeitos anestésicos.

2.2 Fase de cicatrização

Iniciada logo após o término da fase inflamatória, identificada ausência da maioria dos sinais anteriores. É o processo de reparação das estruturas teciduais lesionadas, podendo durar várias semanas. Nesta fase, normalmente ainda existe dor à palpação e durante alguns movimentos que exijam função do tecido lesionado. Entretanto, ao passo que o tecido é cicatrizado ocorre a redução da dor. O fisioterapeuta atua com igual importância da fase anterior. Entretanto, à medida que são readquiridas algumas capacidades, o profissional de educação física pode participar do processo. Ambos os profissionais devem submeter o indivíduo, com certa cautela, à realização de movimentos e ao restabelecimento da amplitude destes.

2.3 Fase de remodelação

É o processo o qual ocorre o realinhamento das fibras de colágeno da estrutura cicatrizada. Tais fibras são submetidas às forças de tensão para se realinharem, buscando a eficiência máxima durante os movimentos. O tecido remodelado não adquire a mesma resistência e aparência anteriores à lesão, todavia, normalmente os níveis funcionais atingem respostas idênticas ou próximas do normal. Na fase de remodelação o papel do profissional de educação física é fundamental, pois é através da implementação de diferentes movimentos, submetidos a diferentes sobrecargas que o tecido recupera sua capacidade funcional. Neste processo inicia-se atividades contrarresistência e gestos desportivos, se for o caso.

Após ocorrer a lesão podemos a plicar o sistema PRICE, que aumenta a possibilidade de melhor recuperação, além de reduzir fatores de risco que agravem a lesão. O sistema PRICE é um conjunto de medidas que visam manter a integridade do local lesionado. PRICE é uma sigla em inglês que significa: Protection, Restricted Activity, Ice, Compression, Elevation. Em outras palavras quer dizer que devemos proteger o local da lesão, restringir qualquer atividade à estrutura lesionada, aplicar gelo local, reduzir o espaço para a formação do edema utilizando a compressão (distal para proximal) e elevação da estrutura, principalmente se a lesão ocorrer nas extremidades.

Para que o processo de reabilitação física tenha sucesso absoluto é necessário ter conhecimento dos quatro pontos básicos da recuperação musculoesquelética: restauração da amplitude de movimentos, reequilíbrio e desenvolvimento das forças musculares, restabelecimento do controle neuromuscular e restauração do equilíbrio. Vejamos adiante as características de cada um.

Restauração da amplitude de movimento

Um dos componetes da aptidão física é a flexibilidade. A amplitude de movimento está diretamente associada ao uso contínuo das estruturas musculares e articulares, sendo reduzida após a restrição da utilização do tecido acometido pela lesão. É iniciada na fase de cicatrização, buscando retomar os movimentos em aplitude total, em relação aos níveis anteriores à lesão. São realizados éxercícios de flexibilidade que perduram até o final da fase de remodelação, fundamentais para readquirir e manter a funcionalidade do tecido lesionado.

Reequilíbrio e Desenvolvimento das Forças Musculares

A força muscular é um componente importante da aptidão física, responsável por várias das nossas ações, sendo fundamental para a funcionalidade. Entretanto, a diferença nas relações de força entre músculos agonistas e antagonistas podem desencadear processos lesivos. Além disso, durante o processo de recuperação ocorrem reduções significativas da força muscular, sendo necessário o seu restabelecimento. A aplicação de exercícios resistidos é crucial para o reequilíbrio e desenvolvimento das forças musculares, devendo ser aplicados tanto na recuperação como na prevenção de lesões.

Reestabelecimento do Controle Neuromuscular

O controle neuromuscular é o resultado da combinação de diferentes compontes associados principalmente à propriocepção e força muscular. Propriocepção é o processamento das informações pelo sistema nervoso central (SNC), advindas de etruturas localizadas nos músculos, tendões, articulações e pele. Os fenômenos físicos ocorridos nessas estruturas são enviados ao SNC, que organiza as informações e envia uma resposta. A propriocepção é o principal sistema de organização do corpo no espaço, permitindo que o indivíduo saiba em que posição ele se encontra num determinado ambiente sem nem mesmo estar de olhos abertos. As estruturas proprioceptivas são: fuso muscular, órgão tendinoso de golgi (OTG), corpúsculos de Rufini, Pacini, Meissner e Golgi Mazzoni, dentre outras. O controle proprioceptivo e da força permite ao indivíduo a melhor eficiência na utilização dos movimentos corporais com a menor possibilidade de ocorrer lesão.

Restauração do Equilíbrio

Seguindo o pressuposto das informações anteriores, o equilíbrio tem íntima relação com a propriocepção, sendo acrescido de funções específicas do sistema vestibular. Após perídio de restrição a movimentos, o indivíduo tem sua capacidade de equilibrar-se reduzida. É de fundamental importância ter este componente restaurado, pois a falta de equilíbrio eleva os riscos lesão por queda e por falta de controle dos movimentos.

3. Visão Atual

Para entendermos os mecanismos das lesões devemos conhecer e estarmos atentos aos fatores predisponentes. Dentre tais fatores podemos destacar: esporte praticado, função no exercício do trabalho, sobre uso (overuse), esforços repetitivos, desvios posturais, gestual motor incorreto, morfologia corporal, etc. Atualmente é visível a demanda de indivíduos portadores ou recuperados de lesão e indivíduos com sintoma álgico sem quadro clínico específico, pela prática de exercícios físicos em academias e centros de saúde e treinamento físico.

É imprescindível que o profissional de educação física tenha conhecimento suficiente sobre os aspectos envolvidos no processo de lesão para lidar com tal público, pois uma má orientação pode trazer à tona uma lesão reincidiva ou desencadear um novo processo lesivo.

Entrevista Exclusiva
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page